Como eu fiz 2,6 milhões de pessoas usarem meu aplicativo

Sim, é receita de bolo. Mas o tempero é de acordo com o cozinheiro. Muita sorte, suor e trabalho.

Gustavo Henrique Silva
Marketing Hackers

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Em 2010, eu era estagiário no Banco Itaú — na área de MIS do Jurídico — e estudava Sistemas de Informação na USP, quando em uma palestra que assisti um rapaz recomendava ler um livro chamado “Pai rico, pai pobre” do autor Robert Kiyosaki.

Esse livro mudou minha forma de pensar, me fez refletir sobre o que eu queria para minha carreira, pedi demissão no trabalho e comecei minha jornada empreendedora. Eu tinha um pouco mais de 3 meses até o final do contrato de estágio para descobrir como fazer uma ideia pagar minhas contas.

Sim, só isso. Sem magia, epifanias, planejamento de carreira, colchão financeiro, nada. Só um aplicativo debaixo do braço (e um carnê do financiamento do meu primeiro carro).

A ideia seria ajudar pessoas que não têm acesso a informação à emagrecer com saúde, com o apoio de nutricionistas e outros profissionais de saúde, diretamente pelo celular.

Um fato curioso era o ambiente de extremo risco onde esse negócio começaria:

  • O aplicativo era de nutrição. Eu não sabia nada do tema.
  • Founder único.
  • Nunca empreendi antes.
  • Me dedicando ao último ano de faculdade.
  • Mercado B2C.
  • Diversos competidores.
  • Eu não sabia o que era uma startup.
  • Não fazia ideia de como ganhar dinheiro.

Isto posto, vou organizar em 4 principais steps o período entre o citado acima e hoje com 2.645.000 de downloads e um dos maiores aplicativos de saúde do Brasil.

1 > Só importa o # 1

Lidar com um mercado extremamente fragmentado e com os líderes consolidados — Nike, Boa Forma, MyFitnessPal, Dieta e Saúde, etc. — não seria para amadores.

Claro que eu era amador! Mas tive que elaborar uma estratégia para vencer esse jogo. Essa foi a minha:

  1. Baixe os 10 melhores aplicativos
  2. Pegue um caderno velho, abra na última página e a risque no meio
  3. Na coluna da direita anote todas as melhores funções dos aplicativos
  4. Na coluna da esquerda as piores percepções
  5. Leia as piores até decorar

O aplicativo que eu iria desenvolver nunca poderia cometer os mesmos erros dos outros. Ao mesmo tempo, ele não teria apenas uma ou outra função bacana, mas sim TODAS!

Sim, todas! Meu MVP foi entregar um aplicativo que poderia substituir todos os outros com apenas 1 download.

Não seria tão fácil assim, principalmente pois eu não sabia programar aplicativos, fazer telas bonitas nem ganhar dinheiro. Lembrei de uma frase que ouvi do empreendedor mineirinho Gustavo Caetano:

“Empreendedor é aquele que aprende a voar depois que pula do avião”.

Esse foi meu método de aprender a voar:

Desenvolvimento: comprei um livro de JAVA para Android e outro de ObjectiveC para iOS. Em 8 meses [2 olheiras, muitas gotas de suor e algumas lágrimas] eu lancei ambos.

Design: abri um excel e desenhei todas as telas pintando as células (baixe aqui o original e sinta vergonha alheia).

Negócios: todos os dias das 00:00 às 00:30 eu assistia os vídeos da Endeavor [minha querida avó jurava que eu era sonâmbulo].

Aplicativo feito. E agora, como fico rico?

Minha primeira opção de nome era "Vida Saudável" mas o domínio não estava disponível

2 > Modelo de (ganhar dinheiro) negócio

Lembro como se fosse ontem de estar em um evento de startups final de 2013 patrocinado pela Mastercard chamado Shift e o investidor Frederico Lacerda (fundador da aceleradora 21212) me perguntou: Qual é o seu modelo de negócio?

Eita. Não sei não moço.

> Como você vai ganhar dinheiro?

Depois de mais alguns livros da Saraiva (quase minha sócia) eu pensei: o mercado internacional de aplicativos gera muito mais receita que o brasileiro. Ou eles gastam dinheiro a toa, ou os aplicativos estão agregando mais valor.

Aprendi em uma palestra do Marcelo Salim que ganhar dinheiro não era difícil quando seu público entende que seu serviço entrega mais valor do que algumas notas podem entregar. Nesse momento ele está disposto a trocar dinheiro por valor [link para essa palestra].

Sendo assim, esse foi meu protótipo de Business Model:

  1. Baixe aplicativos gringos (espanhol, inglês, italiano, francês, etc)
  2. Faça uma lista de tudo que eles oferecem e que não existe no Brasil
  3. Contrate um tradutor (Workana)
  4. Implemente no seu app

Essa seria minha versão profissional (paga).

O desafio então se tornou em qual seria o valor a ser cobrado. Em meados de 2014 o único valor considerado pelos aplicativos era U$ 0.99.

O que para mim era um absurdo! Com a GooglePlay e AppStore cobrando 30% de comissão, mais taxas de transferência internacional do dinheiro para o Brasil e mais todos os impostos, seria impossível colocar esse sonho de pé.

Como eu não tinha dinheiro guardado, tive que com pouco investimento descobrir qual seria o preço do meu produto.

Criei mais uma receita de bolo:

  • Invista R$ 50,00 no Facebook Ads para promover o seu aplicativo
  • Descubra o preço médio de cada download
  • Monitore (usando Google Analytics, Mixpanel ou Count.ly) qual a taxa de pessoas que usam seu aplicativo por mais de 10 dias seguidos [dica: leia sobre Análise Cohort].

Esses são seus possíveis clientes. Quanto cada um teria que pagar para você ter uma margem de pelo menos 300%?

Meu número foi R$ 12,50. Esse seria o preço da mensalidade do meu aplicativo (e é até hoje, mesmo depois de muito teste de pricing).

Implementei um checkout totalmente transparente (usando Iugu) e no primeiro mês faturei quase R$ 1.000. Booom! Tinha encontrado um bom modelo de negócio para minha startup.

3 > Surpreenda. Suba a barra de todo o seu setor!

No terceiro mês eu já tinha saído do meu emprego e abandonado todos os projetos paralelos (menos a faculdade, claro). Aquela startup se tornou real.

Mas eu não me sentia preparado! Apenas segui alguns instintos e por muita sorte encontrei uma oportunidade no mercado.

Senti que eu precisava subir a barra, ou seja: surpreender meu cliente de todas as formas possíveis. Eu queria testar as ideias malucas da minha cabeça, mesmo sem nenhuma escala. Afinal, eu ainda estava aprendendo a voar e o chão estava bem perto.

Algumas ideias que implementei:

  • Perdia muitas vendas pois os usuários não tinham cartão de crédito. Passei a aceitar boleto bancário. [se não me engano deve ser o único aplicativo até hoje que aceita esse método de pagamento]
  • Eu lia e respondia de forma personalizada os mais de 70 comentários diários do aplicativo.
  • Adicionei uma ferramenta de suporte no aplicativo com o meu celular pessoal onde clientes pagantes poderiam falar comigo a qualquer momento
  • O preço era R$ 12,50 mas antes de pagar aparecia o valor de R$ 13,50. No momento do cartão eu informava de uma oferta dinâmica onde o usuário foi premiado aleatoriamente. [aumentou muito a recomendação para amigos]
  • Eram liberadas mais ferramentas do que eu prometia na tela de vendas.
  • Respondia clientes aos finais de semana e feriado. Todos os atendimentos eram respondidos por mim diretamente e em até 24 horas.
  • Promessa para os clientes que todas as atualizações dos aplicativos concorrentes seriam feitas em nosso aplicativo em até 10 dias após eles lançarem. Foi cumprido rigorosamente.
  • Dormia e acordava pensando em ASO (SEO para aplicativos). Otimizava a descrição, título e detalhes diariamente com bombas de keywords. Até o nome das screenshots que eu subia na GooglePlay e AppStore tinha o nome de “dieta-emagrecer.jpg”.

Isso foi se propagando e tornando o nosso aplicativo cada vez mais famoso. Em 12 meses ele já tinha mais de 1 milhão de downloads com uma média de 1.500 downloads por dia (totalmente orgânico).

4 > O que mais importa: Seu Propósito.

Desde que comecei minha jornada me transformei em um grandíssimo Workaholic. Sim, sem nenhuma dúvida.

Desde 2013 eu trabalho todos os dias, pelo menos 1 hora, seja em finais de semana, feriado, natal, no dia do meu casamento, meus aniversários, quando estou doente, etc.

E não fico cansado! Por incrível que pareça.

Porque eu amo o que eu faço. Amo programar, amo ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável, amo trabalhar com tecnologia e inovação. Tenho incontáveis histórias de pessoas que mudaram de vida com meu aplicativo e isso é um enorme prazer.

Pessoas que antes não tinham acesso a informação hoje têm diretamente no celular. [agradecimento especial à aceleradora Artemisia (aceleradora de impacto social)].

Isso se transformou no meu propósito de vida. Usar minha paixão por tecnologia e inovação para ajudar as outras pessoas a conquistarem seus objetivos.

Sem propósito meu amigo(a)…. isso tudo seria só uma história.

Qual o seu propósito?

* Bônus: E agora?

Hoje, além de ser CEO da NutriSoft Brazil. Sou CTO da Liga Ventures, a maior aceleradora de startups corporativa do Brasil.

A NutriSoft continua sendo uma startup inovadora, com foco em levar saúde para todas as pessoas da forma mais acessível e dinâmica possível. Estamos com uma média de 2,5k downloads por dia, 300.000 MAU e um MRR crescendo 30% ao mês nos últimos 18 meses.

Meu propósito me levou para fazer algo ainda maior na Liga Ventures, e que eu tenho um prazer enorme em ajudar outros empreendedores a construirem produtos e serviços incríveis.

Se você tem uma startup e está em busca de um time experiente e apaixonado por inovação para te ajudar a acelerar seu crescimento conte conosco e se inscreva em nossos programas de aceleração.

está esperando o que?

> qual o seu tempero?

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Muito obrigado ❤️

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Entrepreneur & CTO. Serial entrepreneur (2 exits). Father of Tapioca (🐶) and Oliver (👶🏻). Brazilian in London 🇧🇷🇬🇧